quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Mestrando com a Teoria da Literatura III

O tempo na Narrativa.

Estava lendo o último livro da Trilogia de Tormenta, e pude perceber claramente que o Caldela não é um autor por acaso, mas daqueles que entendem de literatura. Não sei bem se fez o curso de Letras, ou é um entendido intuitivo, mas a seqüência de flashbacks e flashfowards do primeiro capítulo é incrível. E isso, certamente, é uma técnica literária que poderia ser empregada na narrativa do RPG.
Os flashbacks e flashfowards são muito bem explicados no livro de Humberto Eco que indiquei no primeiro post desse tópico. Eles funcionam como avanços e retrocessos temporais da narrativa (ou seja, o Mestre narra ou eventos do passado, ou do futuro), e possuem várias funções. Mas a principal que eu acho, como leitor e mestre de RPG que emprega tal estratégia, é criar nos jogadores uma expectativa muito grande sobre o que pode acontecer.
Estou mestrando uma campanha de Tormenta que se chama "A Queda de Khalifor". Para quem conhece o cenário, sabe que ele terminará com uma grande guerra do Reinado contra a Aliança Negra. Meus personagens são um grupo que parte para explorar a região sul de ARTON quando os humanos do norte ainda não têm certeza se realmente existe essa tal de Aliança Negra. Ao começarem a viagem, porém, utilizei um flashfoward e levei meus personagens para cinco anos depois, já com as primeiras batalhas contra os goblinóides. Não precisei a eles que se tratava de algo cinco anos no futuro. Na verdade, eles nem sabem quando o que eles vivenciaram ocorrerá (e espero que eles nem leiam isso, o que provavelmente ocorrerá). Todavia, após um cruel batalha em que eles tiveram apenas lampejos de ação, eles voltaram para o presente, que nada mais é que uma viagem quente por entre montanhas áridas na região sul de Tyrondir (na verdade, nem sei se as montanhas ao sul de Tyrondir são mesmo áridas, mas utilizei o clima como um fator para criar um certo terror nos personagens. Isso se deve a várias coisas que aprendi ao mestrar Call of Cthulhu. Seria um bom tema de tópico).
Após uma cena de batalha épica, o grupo faz um flashback, voltando ao presente, e encontra a monotonia da viagem pelas montanhas. Eles ficam loucos para agir, se envolverem em combates e coisas do gênero, mas a monotonia da viagem os perturba. Esse tipo de desconforto, de aflição e de ansiedade que o mestre causa no grupo é muito interessante.
Por isso, se me perguntarem, acredito que o mais legal dos flashes na aventura é justamente fazer com que os personagens anseiem por algo que não sabem quando virá, da mesma forma que diretores de cinema e escritores fazem em suas obras. Mas, se por acaso alguém saber mais de uma função para isso, favor comentar!

Um comentário:

  1. gostei do jeito que você usa os flashs mas acho que também ficam legal em insinuações de pré destinação,em relação a volta ao passado acho que é uma boa ferramenta para dar dicas aos personagens em alguma situação de combate ou social e se for um mestre mal serve até para dar penalidades como um conjunto de memórias reprimidas e traumas!

    Obs : passa lá no meu blog www.falandoderpg.blogspot.om

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